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Os Perigos do Woke: Liberdade em Risco sob o Véu da Justiça Social

"A justiça social não se faz silenciando vozes, mas permitindo espaço para todas elas."

Por Ponto Radar24 out, 2024 PontoRadar.com

Os Perigos do Woke
Imagem gerada por Inteligência Artificial
O movimento woke, ao tentar corrigir erros do passado e policiar o presente, revela uma incapacidade de imaginar um futuro livre das amarras das culpas. Este puritanismo moderno sufoca a liberdade de expressão e a curiosidade intelectual, fundamentais para o progresso social. É, em última análise, um controle social disfarçado de virtude moral.

O movimento woke tem sido amplamente discutido nos últimos anos, tanto nas redes sociais como nos meios de comunicação. De um lado, estão aqueles que o defendem como uma necessária resposta às injustiças sociais. Do outro, há quem aponte para os excessos de um puritanismo moral moderno, que, disfarçado de justiça social, acaba por sufocar a liberdade de pensamento e expressão.

A liberdade, acima de tudo, é fundamental para o progresso de qualquer sociedade. Não apenas a liberdade para inovar, mas também a liberdade de discordar, de arriscar e até de falhar. Sem esse espaço para experimentar, corremos o risco de estagnação. O movimento woke, na sua vertente mais extremada, promove uma cultura de cancelamento que faz precisamente o contrário: cria um ambiente de receio, onde qualquer opinião ou comentário fora do que é considerado “aceitável” pode levar a consequências imediatas e severas, como a perda de reputação ou carreira. Esta atmosfera de censura esmaga a curiosidade intelectual e impede a exploração de novas ideias, fundamentais para o progresso social e cultural.

Há um certo risco, nestes movimentos, de se transformar numa nova forma de conformismo. Sob a bandeira da justiça social, o movimento woke muitas vezes cai numa visão autoritária do que deve ser dito e pensado. Como se a sociedade devesse ser um espaço completamente imune ao desconforto, às contradições e, acima de tudo, ao erro. A criatividade e o avanço nascem, muitas vezes, da fricção entre ideias, do questionamento do que parece ser uma verdade estabelecida. Se não podemos debater, se não podemos chocar ou desafiar, então qualquer forma de progresso – seja ele científico, social ou artístico – fica comprometido.

Curiosamente, enquanto o movimento woke parece obcecado em corrigir os erros do passado e em policiar o presente, revela uma incapacidade de imaginar um futuro onde estas questões já não tenham o peso que hoje têm. Como se a sociedade estivesse condenada a viver eternamente à sombra das suas próprias culpas. O futuro, porém, não deve ser limitado por estas amarras. É um espaço de possibilidades infinitas, onde novas realidades podem emergir, onde os problemas de hoje podem ser irrelevantes amanhã.

A maior crítica ao movimento woke reside, talvez, na sua natureza autocentrada. Ao focar-se em pormenores de linguagem, em ofensas individuais e numa ideia rígida de identidade, acaba por esquecer questões muito mais urgentes e globais que afetam toda a humanidade – como as alterações climáticas, as desigualdades económicas ou o impacto da automação no trabalho. Esta miopia torna-se, portanto, um obstáculo a uma visão mais ampla e profunda dos problemas reais que o mundo enfrenta.

No fundo, o movimento woke arrisca-se a ser mais uma forma de controlo social, disfarçada de virtude moral. E, como tantas vezes a história nos mostrou, o controlo disfarçado de boas intenções pode ser tão perigoso quanto o próprio mal que tenta combater. Porque, no final, a verdadeira justiça social não se alcança silenciando vozes, mas sim abrindo espaço para todas elas, mesmo que nos façam sentir desconfortáveis. Afinal, o desconforto é a matéria-prima do progresso.